domingo, 15 de abril de 2012

A sensação de estar sobre duas rodas

  
É impressionante perceber as notáveis diferenças entre estar na estrada em uma moto e num automóvel. Não é só a questão do frágil equilíbrio sobre duas rodas, a exposição ao humor de São Pedro ou a sensação de ser corpo estranho aos olhos dos motoristas ao redor. Torna-se evidente o aumento da nossa sensibilidade como um todo.

Falo mesmo dos cinco sentidos:
  • Audição: nem mesmo em um automóvel conversível ficamos tão expostos ao ruído do vento e tão atentos às nuances do ronco do motor, que evidenciam o seu bom ou mau funcionamento. A comodidade oferecida pelos painéis dos carros modernos e seus computadores de bordo nos tornaram surdos a estes detalhes e hoje mal precisamos ouvir o motor para trocar marchas;
  • Visão: seja por motivo de segurança ou de pura contemplação, nossa visão central e periférica se aguçam a ponto de percebermos rapidamente a mudança do padrão da pavimentação, a intenção de um motorista em mudar a sua linha de condução ou de um animal (não motorista) titubeante ao atravessar a estrada. A linha do horizonte por todos os lados se torna um alvo contínuo de atenção, à busca do seu tênue borramento que sugere a aproximação de chuva;   
  • Tato: da localização não visual dos comandos, à pressão adequada no pedal do freio até os sinais de cansaço (a dor na bunda mesmo), que indicam a necessidade de uma paradinha, são incomparáveis com outros meios de transporte. Incluo aqui a sensação térmica, tão preciosa por fazer da pilotagem uma experiência única, mas também às vezes limitadora do prazer de pilotar;
  • Olfato: e não é só o cheiro da fumaça do escapamento dos caminhões. O odor da chuva que se aproxima, da mata da serra em contraste com o campo recém arado; a carga de peixe ou de cereais em um caminhão; a passagem por uma indústria de modelagem de plástico ou de torrefação de café. Nada passa em branco pelas narinas do motociclista; até mesmo percebe-se o zelo da pequena cidade nos cuidados dos seus canteiros de flores com a aplicação de estrume.
Não pense que esqueci do paladar. Só mesmo com a informalidade da viagem em uma motocicleta podemos fazer do imprevisto a razão de conhecer em alguns lugarejos as suas  casas de lanche e restaurantes, que são frequentemente capazes de nos surpreender com seu sabores. Sejam eles surpreendentemente bons ou previsivelmente ruins.  
Tudo motivo para boas lembranças.   

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